Domínio Público


Viva os pontos corridos by Eduardo Simões
18 outubro, 2006, 2:25 pm
Filed under: Campeonato Brasileiro, Eduardo Simões, esportes, futebol, futebol brasileiro

Lembro daquele ano de 2003. Pela primeira vez em sua história o Campeonato Brasileiro era realizado no sistema de pontos corridos. Cronistas esportivos da velha guarda se levantavam contra a idéia ferozmente. Diziam que a fórmula resultaria no esvaziamento das arquibancadas e em desinteresse pelo torneio. Alguns, adotando uma abordagem um pouco mais ideológica bradavam que a “cultura do torcedor brasileiro” não permitia tal formato.

Os anos passaram e estamos na quarta edição seguida de Brasileirão em pontos corridos. Ao término da primeira edição com a nova fórmula, aqueles mesmos críticos decretavam triunfantes sua vitória. Afinal, em 2003 o Cruzeiro foi infinitamente superior aos adversários, chegou aos 100 pontos, levou o título com rodadas e rodadas de antecedência e fechou anos-luz (13 pontos) à frente do vice-campeão Santos.

Mas nada como o tempo para abaixar o topete dos detratores dos pontos corridos. Os anos seguintes tiveram disputas emocionantes, decididas apenas na última rodada e, como um castelo de cartas, todos os mitos negativos sobre a disputa em turno e returno caíram, um a um.

Ficou provado que toda partida vale e os primeiros a entender isso foram os torcedores. Ficou provado que o campeonato em pontos corridos dá a chance de recuperação na tabela ao longo da competição. Atestou-se que, apesar do futebol ser uma “caixinha de surpresa”, organização e planejamento de longo prazo são capazes de levar uma equipe ao topo da tabela. Caiu o tabu de que equipes consideradas tradicionais têm de ser protegidas da segunda divisão.

E a maturidade parece ter sido atingida agora, na quarta vez em que o Nacional é disputado na mais justa das fórmulas de competição. Embora o que se avizinhe seja uma conquista tranqüila do São Paulo, ainda antes da última rodada do torneio, as disputas por vagas em torneios continentais e para escapar do fantasma da Série B ganham contornos cada vez mais dramáticos o que, apesar do desconforto e da violência, têm levado os torcedores ao estádio.

Com pelo menos duas vitórias de folga em relação aos adversários mais próximos, o São Paulo conseguiu o recorde de público do Brasileirão no fim de semana. Cinqüenta e cinco mil pessoas assistiram a goleada sobre o Juventude. Venhamos e convenhamos, se tivesse perdido a partida, ainda assim, o tricolor teria vantagem confortável sobre os rivais. Apesar disso, o público foi similar a da primeira partida da final do Brasileiro de 2002, entre Santos e Corinthians, disputada no mesmo Morumbi. E estamos falando de um jogo da 29ª rodada, de um total de 38.

Ainda há ajustes a serem feitos. Digo, na fórmula de disputa, não vou entrar na questão da organização e estruturação do esporte no país senão provoco superaquecimento e derretimento da placa-mãe do computador e não encerro o assunto.

A Copa Sul-Americana, por exemplo, precisa ganhar mais importância, ser disputada ao longo de todo o ano, junto com a Libertadores. A fórmula precisa ser a mesma da Liga dos Campeões e da Copa da Uefa. Torneios disputados paralelamente e ao longo de toda a temporada. Assim, você valoriza mais a disputa e abre espaço no calendário para que todos possam participar da Copa do Brasil, inclusive as equipes com vaga garantida na Libertadores.

A Copa do Brasil, aliás, deveria englobar todas as equipes das três divisões do Campeonato Brasileiro, como acontece na Inglaterra, Espanha, França, etc, etc, etc. E por que não pensar em um torneio de clubes com países das três Américas? Faz-se como na Liga dos Campeões. Fases preliminares para os campeões nacionais de países com menos força no esporte e com os quartos, quintos, sextos colocados de Brasil e Argentina. Aqueles que forem derrotados vão sendo “rebaixados” para a Copa Sul-Americana, que seria o genérico da Copa da Uefa, até que se conheça, ao fim da temporada, os vencedores dos dois torneios e, no início da temporada seguinte, o campeão da SuperCopa das Américas em partida única, assim como nas finais da Libertadores e da Sul-Americana.

E os estaduais? Eles podem ser o equivalente aos Ramon de Carranza e Tereza Herrera da Europa. Campeonatos eliminatórios e de tiro curto cuja única finalidade é ser preparatório para a temporada que se aproxima.

Resumindo, é uma idéia meia Simon Bolívar, meia “vamos copiar o que fazem os europeus”. E que só os competentes e bem organizados sobrevivam no futebol brasileiro, por mais que me doa no coração essa idéia, assim é a vida, pelo bem do esporte.


6 Comentários so far
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Vergonhosa a sua adesão às idéias colonizadoras do velho continente.

Campeonato só existe no brasil se cada fina tiver três jogos! E nada de mexer na Libertadores, está ótimo assim, com 235 times representativíssimos!!!

abs

Comentário por Vinicius Cherobino

Acho que o menor dos problemas do nosso futebol é a fórmula de disputa. O importante é que ela seja razoável (não reproduza situações bizarras como as que já cansamos de observar) e seja mantida ano após ano, não sendo alterada a sabor das conveniências do momento. Particularmente, até acho mais emocionante (embora menos justo) o campeonato com os playoffs. Mas o que precisa mesmo mudar são os Estaduais, que deveriam ter, no máximo, 1 mês. Já a Copa Sul-americana é um engodo. Todo mundo quer se classificar, mas todo mundo reclama de jogá-la. É isso, Lusita. Viva o São Paulo, que é campeão em todas as fórmulas. E viva a Portuguesa, que é…bem…é um time simpático.

Comentário por Gerson Freitas Jr.

Pois é Gersão, um fenomeno essa Sul-Americana nos moldes atuais. Os times se matam para ficar em sexto, setimo e na hora de jogar colocam o time reserva para priiorizar “o que é realmente importante”. Vai entender.

Comentário por Eduardo Simões

É isso aí, assino em baixo

Comentário por Gabriel

De fato o campeonato de pontos corridos indiscutivelmente é o mais justo, premia o clube que se programaram para médio/longo prazo e que naturalmente terão mais reguraridade dentro das quatro linhas. Contudo confesso que acho bem menos emocionante o campeonato por pontos corridos, me lembro que antigamente mesmo que o seu clube estivesse em uma posição intermediária vc ainda tinha esperança dele ser campeão, é claro que hoje isto ainda existe, mas esta esperança é bem mais remota e resta torcer na prática para se classificar para uma sul-america ou uma libertadores.

Comentário por Flavio

Os defensores dos pontos corridos, não estão levando em consideração que futebol não é só matemática. Futebol exige também motivação dos jogadores. Jogadores focado conseguem bons resultados. Os times que estão na ponta da tabela são bons e ao mesmo tempo focado. O problema do pontos corridos são justamente os seus adversários na reta final. Será que todos os adversário dos times que estão disputando o título estarão motivados? Em uma partida sim, em outra não. Logo o pontos corridos é um campeonato diplomático, ou seja, quem realmente decide são os adversários dos times que estão disputando o título. O que o torna injusto. Por isso julgo necessário um confronto direto entre os aspirantes ao título. Quem estão disputando o título: os quatro primeiro? Então que se decida entre eles. Não precisa ser um mata mata com oito participantes. Seleciona os quatro primeiros. Olhando a tabela nota-se que todos os quatro primeiros fizeram um bom trabalho. Um pontinho ou três pontinho de 114 disputado não mostra que um é melhor que o outro. A partida final se faz necessário então.

Comentário por CN




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