Domínio Público


Minha prima by Daniela Moreira
1 fevereiro, 2007, 11:42 am
Filed under: Daniela Moreira, sociedade

Jéssica é uma moreninha linda, de cabelos bem negros, daqueles que escorrem e teimam em escapar da presilha, caindo sobre o rosto, fazendo charme, desobedientes. Moreninha maneira de dizer. Moreninha porque, mesmo rechonchuda, é mimosa e sempre sorridente. Tem uns olhos amendoados, de polinésia ou havaiana, e um narizinho de campainha que dá vontade de apertar toda hora. O queixinho, que fofura!, parece um moranguinho daqueles bem delicados, que nascem rasteiros, escondidos sob as folhas verdes, no cantinho do jardim.

Mas a cara de menina já não engana. Está virando mocinha. Mocinha não, que isso é do tempo da minha avó. Adolescente. Outro dia fez 15 anos, com direito a baile de debutante e tudo mais. Uma princesa. Como toda menina da idade, pensa em fazer faculdade e seguir uma carreira. Jornalista, como a irmã. Ou cabeleireira. Ou médica. Ou talvez tudo junto. Como toda menina da idade. Pensa também em tirar carta de motorista e casar – esqueci de dizer, mas a Jéssica adora um casamento, vive enquadrando os noivos indecisos.

Já esteve dividida entre dois pretendentes, Brunão e Felipão, mas agora está solteira. Só quer saber de “pegar”, como ela gosta de dizer. Na escola nova, que cursará com a bolsa máxima, privilégio de quem gabaritou no teste de admissão, planeja conhecer muitos gatinhos e fazer novos amigos. E também aprender a ler e escrever. Pra tirar carta e passar na faculdade. Adora uma novela, não dispensa um bom prato e requebra cheia de graça e molejo ao som de uma trilha sonora animada.

Como toda menina da idade, adolescente rebelde, adora implicar com o pai. Discute, desafia, teima. Mas é doce, e dali a pouco esquece e tasca um abraço daqueles fortes, que fazem a gente desequilibrar. Da mãe, diz ser a melhor cozinheira do pedaço. E também é cantora, ela diz, “que orgulho da minha mãe”! Dos irmãos, é o xodó absoluto. E dos amigos dos irmãos, e dos amigos dos amigos dos irmãos também. Conhece todas as turmas e participa de todas as festas, não perde uma.

Mas diferente da maioria das meninas da idade, Jéssica tem um talento especial pra ouvir histórias e prestar atenção nas coisas que a gente conta. Outro dia me perguntou quando eu me mudava. Eu, que já tinha engavetado os planos de comprar um apartamento há uns meses, titubeei e disse que ainda não sabia. E ela se apressou em concordar, afinal, eu ainda tinha que terminar de pagar o carro novo. Sabe mais, essa neguinha, da minha vida que muito amigo de anos. Talvez porque ouça mais, talvez porque se importe mais. E também, não dá pra negar, porque adora uma boa fofoca.

Nunca se esquece de perguntar do meu namorado “Fenicius”, que já adotou como se fosse da família, e do seu irmãozinho caçula, o loirinho de olhos azuis que só conheceu de passagem e de fotos. Mas não importa, ela sempre manda um beijo pra ele mesmo assim. E de vez em quando, sem qualquer motivo, me dá um abraço apertado e me chama de prima especial. Aí eu desmonto – quem resiste? Sim, ela sabe agradar quando quer, a neguinha. Até hoje não conheci ninguém que não tenha se rendido ao seu charme.

Mesmo quem acaba de conhecê-la e compreende com dificuldade as primeiras palavras, às vezes enroladas, não resiste ao papo esperto e logo se encanta com os olhinhos de polinésia e o queixinho de morango silvestre. Não há preconceito que resista. E por isso a Jéssica tem tantos amigos e até tios e primos, que, como eu, não são de “sangue”, mas do coração.

Lembro perfeitamente do dia em que fui visitá-la pela primeira vez, recém-nascida, a filha caçula da melhor amiga da minha mãe. Com medo da sinceridade incoveniente das crianças, minha mãe alertou: “Ela é diferente”. Ela tinha razão. Nunca conheci uma alma tão delicada, tão generosa e sensível como a da nossa Jéssica, Jéssica Pereira da Silva – como ela gosta de dizer.

Poderia ter dito tudo isso e muito mais da minha prima especial sem qualquer motivo, a qualquer hora. É um prazer falar dessa menina linda que eu vi crescer e virar mocinha. Mocinha não, adolescente.

Mas este texto tem sim uma razão de ser. Esta semana ouvi um daqueles comentários cretinos, que andam na moda nos últimos tempos por causa da “Clarinha da novela”. Pensei em escrever sobre preconceito, ignorância, intolerância, pobreza de espírito e falta de respeito com o outro.

Mas quer saber? Mudei de idéia. Falar da Jéssica vale muito mais a pena.


10 Comentários so far
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Dani,

Acho que é o seu texto mais lindo e “honesto”. Realmente a Jéssica é especialíssima. Também não resisto quando ela me chama de “batatão”, sem comentários.

Faz tempo que não a vejo, mas lembro muito bem de quantas risadas demos e das tiradas que só ela tem. Realmente ela percebe e lembra de coisas que não acredito.

Saudades da menina, que agora é adolescente!!!

Manda um beijo do Batatão….

Comentário por Diego Bonel

Mais do que um belíssimo texto, um relato recheado de sentimento – o que não surpreende quem conhece a grande jornalista que é e o enorme coração que tem. Tive pouquíssimo contato com a Jéssica, mas já gosto dela como se a conhecesse há muito tempo. Parabéns!
Bjos

Comentário por Gerson Freitas Jr.

Dani, estou cada vez mais (positivamente) surpresa com a pessoa que você é. Além de talentosa, tem uma sensibilidade rara.
Fiquei com vontade de conhecer a Jéssica.
beijos

Comentário por Rachel Rubin

Meu Deus, to com olhos cheio de lágrimas (manteigona…)
Dani, que lindo o que você escrveu…Eu sou suspeitissima pra falar, mas acho que você descreveu perfeitamente, o que é a minha princesa… E somos privilegiadas com certeza por termos a oportunidade de ter a Jé nas familia.
Sabe, aquele texto que fiz no aniversário dela (você deve ter visto na fita, e coincidentemente, postei hoje tb no meu blog..), tb fiz inspirada por um comentário desses cretinos por conta da novela. E o pior, comentário tosco foi feito por uma pessoa que convivia todos os dias comigo lá no trabalho.
Pobres daqueles que não têm a oportunidade de conhecer uma pessoa especial como ela, especial não pela Sindrome, mas pelos valores e ensinamentos que elas nos passam, que pessoas “normais”, como nós, não somos capazes de aprender sem eles.!
Perfeito seu texto Dani!
Sabe que sempre fui sua fã, e a partir de agora, sou mais ainda. Não só pela perfeita descrição da Jé, e o texto belíssimo, mas pelo carinho que tem por ela. Ela é a minha vida!

Beijo!

P.S.: Mniha mãe tá aqui do lado chorando… Falou em Jéssica ela já abre o berreiro!rs!

Comentário por Pri Bella

Dani sempre te adimirei muito , agora estou extremamente feliz com que voce escreveu em relação a nossa Jéssica ela é realmente tudo isto, mas não seria nada se não tivesse o amor desta família maravilhosa que é a sua , ela se emocionou muito . amamos voce!

Comentário por ivania

Dani, o que dizer? vc me deixou sem palavras e encheu meus olhos de lágrimas… Que ENORME talento vc tem! Impressionante. Manda um beijo pra Jéssica. Ela não me conhece, mas tudo bem. bjs (e adorei a visita, viu??? precisamos repetir a dose! vcs gostam de churrasco??)

Comentário por Silvia

Nossa Dani… Sem palavras. Texto simplesmente maravilhoso.
Ela é linda.
Bjos

Comentário por Fabi

vcs vai para a internet

Comentário por jessica moreninha

Para que serve um amigo?

Para rachar a gasolina,
emprestar a prancha, recomendar um disco,
dar carona para festa, passar cola,
caminhar no shopping, segurar a barra?
Todas as alternativas estão corretas,
porém isso não basta para guardar
um amigo do lado esquerdo do peito.
Milan Kundera, escritor tcheco,
escreveu em seu último livro, “A Identidade”,
que a amizade é indispensável
para o bom funcionamento da memória
e para a integridade do próprio eu.
Chama os amigos de testemunhas do passado
e diz que eles são nosso espelho,
que através deles podemos nos olhar.
Vai além: diz que toda amizade
é uma aliança contra a adversidade,
aliança sem a qual o ser humano
ficaria desarmado contra seus inimigos.
Verdade verdadeira.
Amigos recentes custam a perceber essa aliança,
não valorizam ainda o que está sendo contraído.
São amizades não testadas pelo tempo,
não se sabe se enfrentarão com solidez as tempestades
ou se serão varridos numa chuva de verão.
Veremos.
Um amigo não racha apenas a gasolina:
racha lembranças,
crises de choro, experiências.
Racha a culpa, racha segredos.
Um amigo não empresta apenas a prancha.
Empresta o verbo, empresta o ombro,
empresta o tempo,
empresta o calor e a jaqueta.
Um amigo não recomenda apenas um disco.
Recomenda cautela, recomenda um emprego,
recomenda um país.
Um amigo não dá carona apenas para festa.
Te leva para o mundo dele,
e topa conhecer o teu.
Um amigo não passa apenas cola.
Passa contigo um aperto,
passa junto o reveillon.
Um amigo não caminha apenas no shopping.
Anda em silêncio na dor,
entra contigo em campo,
sai do fracasso ao teu lado.
Um amigo não segura a barra, apenas.
Segura a mão, a ausência,
segura um confissão, segura o tranco,
o palavrão, segura o elevador.
Duas dúzias de amigos assim ninguém tem.
Se tiver um, amém !

Comentário por Fernanada

vai toma no cúúú
arrpnbados

Comentário por hrtghtfhfgh




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