Domínio Público


Camisinha no lugar errado by Eduardo Simões
7 fevereiro, 2007, 2:37 pm
Filed under: Eduardo Simões, educação, sexo, sociedade

Talvez eu esteja prestes a demonstrar todo meu conservadorismo. Talvez você leitor esteja à beira de acompanhar uma visão retrógrada e ultrapassada do mundo atual, mas ainda assim, ninguém me coloca na cabeça que essa história de instalar máquinas de camisinha nas escolas do ensino médio seja “uma idéia legal”, como andaram falando os próprios estudantes em pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde, autor da idéia.

Pode me chamar do que for, mas na minha cabeça colocar a máquina de camisinha no corredor do colégio e colocar uma placa “a prevenção já está aí, leve sua namoradinha para o banheiro e divirta-se” não tem muita diferença. E isso com adolescentes que podem ter 14 ou 15 anos.

Ok, ok, eu sei que as pessoas começam a vida sexual cada vez mais cedo. Que os tempos são outros etc e tal. Mas afinal de contas, para quê serve a escola? Para dar um incentivo à iniciação sexual ou para fornecer educação sexual?

Será que não seria muito melhor explicar em sala de aula o que são doenças sexualmente transmissíveis, como são transmitidas e como podem ser evitadas? O professor podia completar com algo do gênero: “Aliás, para quem precisar, qualquer posto de saúde fornece preservativo gratuitamente”.

Pronto. Muito melhor do que, sem aviso prévio, colocar lá, ao lado do banheiro masculino, uma máquina “igual às de refrigerantes ou de salgados” de camisinha. Isso certamente facilitaria a vida dos alunos que já começaram a vida sexual, mas e os demais? Quem garante que não se sentiriam pressionados a “dar umazinha” só porque “todos meus amigos fazem isso”.

A prática comprova que a adolescência é a fase das mudanças, mas também é a fase de fazer idiotices. Vamos lá, atire a primeira pedra quem não fez ou não conhece alguém que tenha cometido uma cretinice –de maior ou menor grau—incentivado, ou pressionado, pelos amigos na adolescência.

Além do mais, se é fato que as pessoas começam suas vidas sexuais cada vez mais cedo, qual deve ser a postura, principalmente de um Ministério da Educação, diante disso? Educar para tentar reverter o quadro ou instalar máquinas de preservativos no colégio? Até que ponto é saudável alguém perder a virgindade aos 14 anos? Isso porque estou me mantendo só no ensino médio. Há escolas em que alunos do ensino médio e do fundamental se misturam e aí, caro leitor, estamos falando de jovens de 11, 12 anos de idade.

Para ilustrar, guardadas as devidas proporções: o número de mortes por arma de fogo está aumentando, o que o governo faz? Inicia uma campanha de desarmamento da população e intensifica o combate ao crime ou instala máquinas para distribuir coletes à prova de bala em locais públicos?

Antes que os maus intencionados tentem distorcer meus argumentos –a melhor estratégia daqueles que não os têm–, não estou defendendo aqui a abstinência como forma de combate à Aids, nem condenando o uso de camisinha. Acho apenas que tudo tem sua hora e lugar.

Não sei sequer se existe uma lei que determina o ensino de educação sexual nas escolas, o que sei é que isso nunca me foi ensinado nos colégios em que estudei –tirando algumas mínimas referências nas aulas de biologia—e nem naqueles em que estudaram amigos e conhecidos.

Não seria colocar o carro na frente dos bois? Uma máquina de preservativo onde a maioria não começou a vida sexual e, como quase todo mundo, vai aprender fazendo, porque nunca ninguém –nem os pais, nem a escola—chamou para explicar que os bebês não são trazidos pela cegonha?

Tudo bem. Deve ser mais fácil encontrar uma criança que acredite em Papai Noel do que achar alguma que ainda leve a sério essa história da cegonha. Mas existe muito mais coisas do que simplesmente o papai plantar a sementinha na mamãe;

Se todo mundo defende que criança e adolescente não podem trabalhar porque isso é coisa de adulto, com o que, aliás, estou plenamente de acordo, qual o sentido de colocar um incentivo ao sexo? Será que ter a primeira relação aos 14, 15 anos não é uma forma de precipitar a vida adulta?

Por fim, mais uma vez fico com o mote do ex-candidato e atual senador Cristovam Buarque, que já se manifestou contrário à instalação das máquinas de preservativo: educação, educação, educação.


10 Comentários so far
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De acordo, meu caro. O problema é que não apenas o sexo, mas a educação sexual é um tabu neste País – e não só aqui, diga-se. Tenho a impressão que as poucas palestras ou aulas a que adolescentes de escolas públicas têm acesso tratam a questão de forma sóbria, séria e suficientemente aprofundada.

E as poucas iniciativas de educação sexual apelam para abordagens divertidas, desencanadas e maliciosas que – na minha modesta opinião – desviam o foco de questões que são sérias e merecem ser encaradas dessa forma.

Parte disso é que qualquer esforço no sentido de postergar a iniciação sexual vai ser sempre taxado de repressor, conservador ou retrógrado. Para evitar a fadiga da discussão, distribui-se a camisinha e pronto. Não é a melhor política, mas, certamente, é a mais popular.

Comentário por Gerson Freitas Jr.

Caro Portuga,

Eu também não sei se essa é a melhor forma de prevenir doenças e “educar” os jovens. Porém, temos de ser honestos que mesmo os adolescentes que são de famílias que têm mais acesso às informações sobre o assunto acabam enfrentando problemas de gravidez não planejada (para ser politicamente correto).

Por isso, não acho que esse problema seja apenas questão de informação já que, mesmo que os pais e professores não falem abertamente sobre sexo, os jovens de classe média são, na minha opinião, munidos de informações sobre formas de prevenir gravidez e DSTs.

Pode faltar maturidade, aí que concordo em partes com você. Hoje, também não sei se não é demasiadamente precoce a idade com que se inicia na vida sexual, mas pode-se conversar com diversos jovens que sabem dos cuidados que devem tomar mas, pela tal imaturidade, as vezes se arriscam, principalmente as mulheres, por pressões dos garotos.

Concordo que deveriam ser orientados a buscar as Unidades de Saúde para pegar preservativos gratuitos, mas o constrangimento que sentem pode inibir essa prática e coloca-los num risco maior.

É uma questão meio “tostines”, creio que ainda estamos bem longe de ter uma sociedade matura sexualmente.

Abs

Batata

Comentário por Diego Bonel

Lusa, esse foi o texto mais reaça que já passou pelo DP. Absurdo, absurdo…

Reclamar da máquina de camisinhas é de uma ingenuidade atroz, principalmente pq vc não reclama da publicidade, da música, das novelas ou mesmo da Xuxa. Vc nota o sexo acontecendo com os mais jovens. Pergunto pq? Pq sexo vende. E ponto final.

Se pessoas com 20, 30 anos na cara de dificuldade de se relacionar com isso, imagine de 14, ou de 11, como vc diz…

Incentivar o sexo não é colocar a máquina de camisinha. Incentivar a proteção é colocar uma máquina de camisinha. São coisas muito diferentes.

Principalmente pq a visita ao banheiro com a namoradinha de trancinhas e vestidinho rosa que vc pintou já acontece, para caralho, esteja lá ou não a camisinha.

abs

Comentário por Vinicius Cherobino

A visita ao banheiro com a namoradinha acontece, eu não disse que não acontecia. Só qual a postura diante disso? Conformar-se e dizer “já que é desse jeuto mesmo vamos colocar uma máquina de camisinhas pelo menos vamos evitar que alguém engravide, pegue uma doença e os pais venham bater à nossa porta dizendo: ‘como você deixou isso acontecer com a minha filha’? Talvez você não tenha entendido o que eu quis dizer com “educação, educação e educação”, mas essa é exatamente a alternativa que eu estou propondo para que essas pessoas de 14, 11 anos, quando chegarem aos 20, 30, saibam melhor como lidar com o assunto.
Quanto a publicidade, volto ao que eu disse no começo. Ok, hoje em dia você tem sexo –explícito ou insinuado– por todos os lados. O que faz diante disso? Admite que “sexo vende e ponto final” e, ora bolas, a vida é desse jeito mesmo e vamos nos antecipar aos fatos e distribuir camisinhas no Jardim da Infância, ou vamos tentar explicar para as pessoas, e a escola é o melhor lugar para isso, que tudo tem seu tempo, que não é só porque a cantora que a menina de 12 anos gosta tem 20 anos e sete filhos que ela tem que fazer igual. Não é porque, no Big Brother, todo mundo “pega” todo mundo que isso é o que todos os coleguinhas de 13 anos têm que fazer.
Enfim, meu caro, pior do que uma “ingenuidade atroz”, porque afinal de contas, isso já acontece mesmo, é a omissão irresponsável. “Essa é a realidade, vai dar muito trabalho tentar mudá-la, então toma aqui uma camisinha e mandar ver garanhão!”
abs

Comentário por Eduardo Simões

Portuga, meu caro, vamos lá… Na postura de governo – gigante burocrático ligado mais com o mercado do que com as pessoas – a educação não passa de discurso. Então, qual é a prioridade? Um investimento anual e contínuo na formação de professores e melhorias nas escolas ou uma máquina de camisinha que certamente vai diminuir a natalidade infantil/adolescente e ou AIDS?

A resposta é clara. Pq chamo de moralista seu discurso? Pq implica com o sexo e não com as causas… O q te indignou foi a máquina tão perto da inocência e não a postura da mídia (sempre ela), da publicidade, das novelas, das indústrias, das Xuxas, dos governos e afins.

É evidente que no mundo ideal a resposta é educação. Sempre foi. Mas o mundo ideal não existe e, para começar a existir, precisa da grana e empenho non stop. E, até atingir isso, precisa de medidas urgentes. Como colocar máquinas de camisinhas para que as pessoas não morram jovens ou para q não tenham um filho indesejado.

E não se trata de admitir q sexo vende. Sexo vende. É fato. E todo mundo se aproveita disso. Fato dois. E o governo (qualquer q seja a cor ou ave) está cagando e andando para isso.

Para mim, a omissão irresponsável é jogar para a educação (um processo longo e de resultado nem sempre esperado: lembra da metodista?) uma realidade que bate na porta.

abs

Comentário por vinacherobino

Para não deixar acabar o assunto:
Mês passado eu recebi a visita de um amigo de infância. Era um amigo dos bons, mas como a vida tem dessas coisas ele se mudou para outra cidade e depois para outra, então perdemos contato.
Ou quase, porque ele ligava de vez em nunca, e eu fazia o mesmo.
Não havendo tempo para falar de todas as coisas, ficava sabendo, por alto, que ele tinha lá três filhos: duas meninas e um menino. Mas como jamais os vira, não podia imaginar ou entender plenamente o fato de meu amigo já ter filhos.
Até que ele veio me fazer a visita em questão.
E eis que vejo uma bela morena, de uns 14 anos, mas parecia mais, uma garotinha de uns 8 aninhos e um garotinho de 7.
E o meu amigo, para não deixar de lado aquela velha mania de tirrar um sarro, logo foi dizendo: Ei, não é para dar em cima da minha filha!
Eu ri e fui cumprimentá-los, a todos eles, e seja pelo comentário dele, ou qualquer outra razão, sei que a menina me cumprimentou quase lascivamente.
Meio sem jeito, os conduzi para a sala de visitas, onde pudemos conversar longamente.
A garotinha de 8 anos era loirinha e estava se divertindo muito, se pendurando no meu braço e mostrando as coisas que ela havia ganho dos parentes e dizendo que ainda esperava o papai noel (que estava atrasado). Tudo em grande alegria, até que esta pequena decidiu ir ao banheiro e me puxou pelo braço, para que eu a levasse até lá.
Levei-a até lá e num instante ela abaixou as calças e sentou-se, sem pressa, no vaso sanitário. Eu mais que depressa fechei a porta, sentindo uma ponta de constrangimento.
Bem, tudo isso, para dizer que somos seres que falamos muito mais do que fazemos quando o assunto é sexo, e sim, isso ainda constrange, é um exercício cheio de tabus e não bastasse isso, tem sido também completamente descontextualizado pelos diversos meios de mídia.
Daí que a tal educação sexual, que por si é muito controversa, tem que começar antes com as mídias, antes com os professores, antes com os pais.
Tem que começar por definir se sexo é bom (vender nós já sabemos que vende) e se sendo bom deva se tornar livre para todos ou se deve ter restrições.
Haja contradição!
Piora se pesquisarmos as leis, mas isso eu deixo à cargo dos meus ilustres jornalistas.
No mais, boa Lusa, pela discussão e por mitigar a crise de literarismo que tem assolado as mentes deste espaço!

Comentário por Kz

Fazeda, confesso que estou um pouco chocado com o qie me parece ser um certo conformismo da sua parte. Não é porque o governo caga pro assunto que todos temos que cagar. Não é porque a mídia, a Xuxa e todas as outras coisas estão erradas que temos que dizer “ok, a vida é assim mesmo, fazer o quê?” Enfim, não é porque tudo está errado que não podemos pelo menos apontar e falar “puta que o pariu! Tá tudo errado!”
O problema não é o sexo batendo na porta da inocência na escola. Qualquer criança de 10, 11 anos pode ir a um posto de saúde e pegar quantas camisinhas quiser e de graça. O problema não é a camisinha, mas onde ela é colocada. Se você coloca uma máquina de distribuição de preservativos numa escola, como disse no texto e repito, nas entrelinhas está-se aceitando que não há problema algum os alunos fazerem sexo por ali mesmo. Você está levando para dentro da escola, um lugar onde as pessoas deveriam aprender alguma coisa, ser educadas para a vida (ok, sabemos que isso não acontece, mas devia acontecer) toda a banalização do sexo que você bem colocou que está em toda a sociedade. Mas será que temos que levar isso para as escolas também? Será que pelo menos lá deveria ser um lugar onde essa bamalização não acontece, com ou sem educação sexual?
Quanto a ter um discurso moralista, talvez seja sim, afinal de contas moral não é necessariamente uma coisa ruim.
abs

Comentário por Eduardo Simões

Lusa, o ponto de discórdia não é esse. Não nego a importância da educação e, acima de tudo, não parei de acreditar isso. Não tem nada a ver.

O que não concordo é que a máquina de camisinha represente uma concordância surda para se fazer sexo na escola. Não acho. Para mim, a máquina de camisinha significa o que já disse no outro comentário: as crianças já estão transando, as crianças já estão tendo filhos, as crianças já estão doentes. Então, o remédio é proteger, diminuir o incêndio, depois passamos para a causa (que, aí, acredito ser de difícil resolução e questiono “a vontade política”).

Por exemplo, pega o comentário do rapaz acima do seu (que eu tava vendo terminar em conto erótico com pedofilia). O sexo está nele ou na criança? Nos dois? No mercado? Boa pergunta. Eu não tenho idéia e nem competência (ainda) para discutir o fato psicologicamente.

O q discuto, e chamo de moralismo (negativamente, que fique claro), é a briga com a máquina e pelo seu texto ter nascido disso: das crianças estarem transando. Disse eu: não é novidade. O q é novidade, neste contexto, é o governo ter feito, de fato, algo. A educação, como não podia deixar de ser, fica para depois.

Comentário por vinacherobino

Eu tbém acho que isso acabará incentivando o sexo entre crianças 14 á 15 anos.Para distribuirem camisinhas basta os postos de saúde,assim vai quem quer e quem já tem vida sexual.Eu tenho sou de menor e acabei de buscar camisinhas no posto de saúde, a enfermeira me deu 12 preservativos.Sem contar que muitas crianças q só gostam de brincar vão pegar as camisinhas p fazer de bexigas.Acho errado distribuirem nas escolas,…
Uma criança mal educada não vai aprender a ser educada nas escolas, Educação vem de casa assim como conhecimento sexual!!!!

Comentário por Thayane

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