Domínio Público


Crédito fácil by Gerson Freitas Jr.
21 fevereiro, 2008, 2:52 am
Filed under: economia, Gerson Freitas Jr.

Por Gerson Freitas Jr. 

“Você pode estar me dando um segundinho da sua atenção?”, perguntou a menina que calças laranjas e colete verde limão em frente a uma financeira. Fugi, confesso, empurrado não apenas pela pressa de quem está sempre lutando por três minutos que reduzam o atraso, mas pelo medo de aliciamento. Alguns metros à frente outro guri colorido, mais direto, pergunta: “Crédito pessoal, moço?”

Fiquei com a sensação que há algo muito errado com tanta oferta de dinheiro “fácil”, nas calçadas, nos outdoors do metrô, nas páginas dos jornais e horários pagos da TV. Os números também deixam uma pulga atrás da orelha. O Banco Central divulgou há algumas semanas que, só no passado, os empréstimos pessoais cresceram 33%.

Alguém pode argumentar, com alguma dose de razão, que esse aumento se explica pela queda na taxa de juros (que obriga os bancos a procurarem outros clientes tão bons quanto o governo) e o aumento do emprego e da renda que resultam do “espetáculo do crescimento”. E concluir que nenhuma economia se desenvolve sem boa oferta de crédito.

Também é verdade que, no Brasil, ainda falta dinheiro para financiar seja a compra de um carro, seja o aumento da produção de uma fábrica. Ao todo, a oferta de crédito respondeu por 34,7% de todas as nossas riquezas em 2007. Apesar de ser o melhor resultado em 12 anos, ainda está longe da média mundial, que gira em torno de 100%.

Portanto, o crescimento dos empréstimos é, a princípio, uma notícia positiva. Os problemas surgem quando a destrinchamos em pelo menos dois aspectos. O primeiro: o salário do trabalhador, que é baixo, não cresce no mesmo passo de seu endividamento. Pelo contrário, sua renda média caiu, descontada a inflação, 4,9% entre o segundo semestre de 2002 e os últimos seis meses do ano passado, segundo o IBGE. O segundo e mais importante: de acordo com a Anefac, a taxa de juros média para a pessoa física em dezembro foi de inescrupulosos 129,81% ao ano. No limite, portanto, o consumidor chega a pagar duas vezes o produto adquirido – diferença que fica com o sistema financeiro.

Logo, a expansão do consumo – principal responsável pelo crescimento do PIB no ano passado – está se dando à custa de uma brutal transferência de renda das famílias e do governo (via desconto para o pagamento de crédito consignado para funcionários públicos e aposentados) para o cofre dos bancos – o que ajuda a explicar seus lucros recordes no ano passado. É dinheiro migrando do consumo e do investimento para o pagamento de juros, o que resume a anemia econômica brasileira.

Por isso, quando uma menina sorridente em trajes coloridos de alguma financeira lhe pedir “um segundinho da sua atenção”, lembre-se: elas sempre querem algo mais.



Como calar a “garganta profunda” virtual by Daniela Moreira
19 fevereiro, 2008, 1:51 am
Filed under: Daniela Moreira, Uncategorized | Tags: , , ,

Por Daniela Moreira

O título não se refere a um site pornográfico censurado. Trata-se do Wikileaks.org, onde, até esta segunda-feira, era possível publicar anonimamente documentos sigilosos – ou seja, bancar o “garganta profunda por um dia” sem deixar rastros virtuais.Um tribunal da Califórnia acabou com a folia, determinando o fechamento do site nos Estados Unidos. O motivo: o site foi responsável por vazar documentos que denunciavam supostas operações de lavagem de dinheiro e evasão de impostos praticadas pelo banco suíço Julius Baer via Ilhas Cayman.

Antes da pendenga legal, o site foi responsável, entre outras coisas, pela publicação de documentos que embasaram denúncias de operações do exército norte-americano para perseguir terroristas iraquianos atravessando as fronteiras com a Síria e o Irã e revelaram políticas da prisão de Guantanamo que impediam o contato dos prisioneiros com representantes da Cruz Vermelha – ambos casos reportados pelo New York Times.

A Wikileaks se define como “uma Wikipedia sem censura para vazamento e análise de documentos”. O objetivo principal, segundo o próprio site, é denunciar “regimes opressivos na Ásia, ex-bloco soviético, África Subsahariana e Oriente Médio”, mas o Wikileaks também se presta a revelar “comportamento antiético de governos e corporações” localizadas em qualquer região.

O real objetivo por trás do site já foi questionado por detratores, assim como sua real capacidade de garantir a segurança e a privacidade dos informantes anônimos. Críticos apontaram ainda que o site poderia sim ser usado para o bem, mas também estaria à disposição do mal – poderia, por exemplo, ser usado para divulgar informações falsas ou de interesse próprio (parênteses para um argumento complicado: não seria essa a natureza ambígua da própria internet???).

Enfim, o banco reclamou, a Justiça acatou e o site saiu do ar. Bem, não exatamente.

Sem entrar no mérito pra lá de questionável do processo que decidiu calar a “garganta profunda virtual” (em plena terra da primeira emenda), na prática, a decisão será difícil de vingar.

Além das versões belga e alemã do site, que continuam no ar, o Wikileaks já tem espelhos e backup em arquivo torrent, informou John Paczkowski – que classificou o processo como uma tentativa de “tirar o xixi da piscina” –, no blog All Things Digital.

O recado é claro: não dá para fechar a web.



Costela de Adão by Eduardo Simões
13 fevereiro, 2008, 1:33 pm
Filed under: crime, Eduardo Simões, machismo, sexo

Por Eduardo Simões

Já conhecia Simone há uns quatro meses, tinham um amigo em comum e começaram a conversar. Otávio logo se interessou e rapidamente trocou telefones, endereços de Messenger e essas coisas todas com a moça. Conversavam bastante, mas ele achava que ela nunca dava a deixa para que ele tentasse uma aproximação final.

Foi quando Simone decidiu chamá-lo para uma festa de formatura de um conhecido, amigo ou coisa que o valha. Topou na hora. Ficou de encontrá-la já dentro do salão da festa. Colocou um terno, arrumou uma gravata nova que, segundo o vendedor, “parlava italiano”. Chegou confiante e garboso. Tinha que ser ali, afinal ela não o teria convidado se não esperasse dele uma atitude ali.

Cumprimentou um monte de gente. Tias, tios, amigos, conhecidos e tudo o mais. Quando finalmente se desvencilhou das formalidades, foi logo tentando puxar assunto com Simone, esperando um sinal, um sorriso. Se não tivesse ia para o tudo-ou-nada.

Mas de repente chega um outro cara, mais forte, mais alto e mais bonito que Otávio, Ele cumprimenta Simone com um beijo no rosto e um longo abraço. Na expectativa, Otávio fica de lado, esperando o cara ir embora para que pudesse continuar de onde parou. Simone o apresenta. É seu primo Ernesto do interior, que ela não via “há o quê? Uns seis anos?”.  E sorri largamente para, em seguida, se engajar em um longo papo com o primo.

Otávio certamente não esperava esse contratempo. O melhor que tem a fazer é ir tomar um drinque enquanto espera esse papo chato sobre bobagens da infância acabar. Vai até o balcão e apanha um copo de uísque. Só que alguns minutos depois, copo já vazio, a conversa entre Simone e Ernesto segue animada, e adornada por carinhos mútuos, ora no braço, ora no rosto.

“Ora, que maldição!” Se lamenta Otávio, o jeito é pedir outra bebida. O copo já é o quarto e nada da conversa terminar. A cólera já começa a tomar conta de Otávio, que sequer tira os olhos dos dois primos para pedir outra dose de uísque, que já começava a se contar na casa das dezenas.

De súbito ele não se agüenta mais de raiva, toma o décimo-quinto copo de uísque num gole só, o coloca no balcão com força, limpa a boca com a manga da camisa e parte decidido em direção à mesa de Simone. Antes que ela ou Ernesto pudessem dizer algo, Otávio empurra o primo e lhe desfere um potente soco no rosto. Ainda enfurecido, ele aproveita que o adversário está no chão e pisa em seu tronco com ódio. Arma-se o escândalo e os seguranças expulsam o cambaleante Otávio do salão.

Horas depois, Otávio escuta a campainha do telefone, faz um enorme esforço para levantar, mas a ressaca e a dor de cabeça são insuportáveis. Percebe que já amanheceu e, com dificuldade atende ao telefone. A voz do outro lado, a do amigo em comum com Simone, lhe conta com ar sombrio.

– Cara, o primo da Simone morreu. Uma das três costelas quebradas perfurou o pulmão e ele não resistiu ao sangramento interno. É melhor você arrumar um advogado.

Desliga o telefone, mal digere a informação que acabara de receber e a campainha toca. Abre a porta e vê Simone com um semblante enfurecido. Sem pedir licença nem nada ela adentra em seu apartamento. Otávio fecha a porta e tenta se desculpar.

– Olha, me desculpa. Eu não devia ter feito aquilo, eu tava com umas a mais, mas nunca que eu querer machucá-lo e…

Foi interrompido por uma sonora bofetada na face direita.

– Cala essa boca! – diz Simone ao mesmo tempo em que o empurra no sofá, monta em cima dele e lhe dá um libidinoso beijo na boca.

– Finalmente você tomou uma atitude de homem, honrou as calças que veste.

E copularam ali mesmo, enquanto não muito distante dali tias, tios, amigos e conhecidos choravam a morte precoce do jovem Ernesto.



E não é que o Chuck está mesmo nas propagandas by Eduardo Simões
8 fevereiro, 2008, 1:49 am
Filed under: Eduardo Simões, Eleição norte-americana

Essa é boa. Eu juro que não sabia desse anúncio do Huckabee antes de escrever o post anterior.

http://www.youtube.com/watch?v=MDUQW8LUMs8

Pena que não sei colocar aquela imagem do Youtube para vocês clicarem direto.



Chuck Norris para presidente do Mundo Livre by Gerson Freitas Jr.
1 fevereiro, 2008, 2:00 pm
Filed under: democracia, Eduardo Simões, Eleição norte-americana, eleições

Por Eduardo Simões

Seria um bom slogan: “Chuck Norris para presidente do Mundo Livre”. Sem sombra de dúvida uma candidatura à qual somente Macgyver ou Rambo poderiam fazer frente. Mas em vez disso, Chuck preferiu a modéstia e resolveu apoiar para presidente dos Estados Unidos, ou líder do Mundo Livre, um republicano sem chances de receber a indicação do –vejam só– partido vermelho norte-americano.

Com essa decisão, Chuck colocou no limbo os sonhos do “Prefeito da América” Rudy Giuliani de chegar à Casa Branca. Imaginem uma propaganda na TV com Chuck e Rudy saindo triunfantes dos escombros do World Trade Center carregando em conjunto a cabeça decepada de Osama Bin Laden. Seria o golpe final em qualquer sonho democrata de chefiar a maior potência do mundo.

Mas Chuck Norris não é mais o mesmo. Em vez disso escolheu o ultra-religioso ex-governador do Arkansas Mike Huckabee para apoiar. Resultado: nem Rudy nem Mike, o partido vermelho dos EUA caminha para indicar como seu candidato um ex-prisioneiro de guerra do Vietnã, o septuagenário John McCain, que já recebeu o apoio do Prefeito da América, mas ainda espera pelo apoio de Chuck.

Enquanto aguarda ansiosamente a oportunidade de levar as lembranças das torturas sofridas nas mãos dos “porcos comunistas” ao Salão Oval, McCain, que aparentemente não é o dono da marca de batatas fritas, já coloca no bolso o apoio de outro “Durão da América”. Sim, senhoras e senhores, Arnold “O Exterminador” Schwarzenegger vem aí. Com um apoio desses McCain pode até dispensar Chuck Norris e já tem até mesmo seu discurso preparado para uma eventual derrota: “I’ll be back!”

Enquanto McCain tem pelo seu caminho somente o ex-governador de Massachusetts Mitt “eu só tenho apoio da minha fortuna pessoal” Romney, a briga democrata é bem mais divertida, principalmente depois da desistência do ex-senador norte-carolino John Edwards. De um lado do ringue, senhoras e senhores, a ex-primeira-dama que entende as necessidades carnais de seu marido Hillary Rodham Clinton. De outro, o senador filho de queniano com sobrenome de ditador do Oriente Médio Barack Hussein Obama.

Isso significa que, em se confirmando a vitória de McCain pelo lado do partido vermelho, a eleição de novembro para presidente do mundo terá um resultado histórico. Se Hillary vencer, será a primeira mulher a comandar o planeta. Festa feminista. Sutiãs às fogueiras! Se McCain vencer, será o homem mais velho a ser eleito para um primeiro mandato na Casa Branca. Festa nas clínicas geriátricas de todo o mundo. No caso de uma vitória de Obama, pela primeira vez na história um negro estará à frente da maior potência mundial. No além Martin Luther King Jr e Malcom X certamente celebrarão.

Enquanto isso, nós aqui no quintal deles, na parte debaixo do continente, tentamos entender uma eleição como nunca antes se viu na história daquele país. Tentamos entender por que o partido mais à direita, o republicano, é o vermelho, enquanto por aqui a cor é (ou era) mais identificada com os canhotos. Tentamos entender porque os liberais e os democratas de lá são considerados os mais esquerdistas, enquanto aqui a Frente Liberal, agora Democratas, é vista como conservadora. Mas espera aí. Não são os vermelhos de lá -os republicanos- que vivem brigando para saber qual deles tem mais “credenciais conservadoras”?

Ficamos aqui, no Terceiro Mundo, agora mundo em desenvolvimento, tentando entender que tanto esses gringos falam de “founding fathers” nas eleições, enquanto em terras brasileiras o que mais influencia os pleitos são os “funding fathers”, que, apesar de sua inquestionável importância, são sempre jogados para debaixo do tapete do caixa dois e dos recursos não-contabilizados.

E que história é essa de disputa Estado a Estado pela indicação partidária? Por que eles não fazem como aqui, onde meia dúzia de caciques partidários se reúnem e simplesmente apontam os candidatos de cada legenda?

Mas deixemos as esquisitices desses gringos de lado, afinal, meus amigos, o Carnaval vem aí. E o que importa agora é ziriguidum e esquindô.